Mas, pra variar, vamos falar de comida!
Carne de Sol, camarão, lagosta, baião de dois, arroz de carneiro, queijo coalho, feijão verde, ai... são muitas delícias. Havia um tempo, em que a gente pedia um “Pargo Frito” nas barracas da praia (um dos melhores peixes que já comi na vida) e tinha que ir até a cozinha escolher o tamanho do peixe. Hoje, infelizmente, o pargo está cada vez menor e não há muita diferença entre um e outro. O mesmo acontecia com os caranguejos, vivos e grandes, exibidos dentro de uma bacia executando um estranho balé, indo um a um parar no caldeirão fervente.
Para quem conhece o Ceará, a receita de hoje talvez não seja nenhuma novidade. Mas, convido todos a viajar comigo nesse prato de sabor único que é o “Peixe à Delícia”. No fim do post, há uma sugestão de vinho para acompanhar o prato, com uma pequena estorinha sobre essa harmonização.
Peixe à Delícia
Obs: como não tenho essa receita escrita formalmente, a quantidade dos ingredientes vai ser na base do bom senso.
Calcule entre 200/300 gr de peixe por pessoa.
Escolha filé, sem espinhas, de um peixe de carne firme (a fim de evitar que ele se esfarele na frigideira)
pode ser: badejo, cherne, haddock, namorado, pargo, etc (no Ceará se faz com pargo, mas não creio que o mesmo pargo que se encontra lá seja o mesmo que em SP, por exemplo).
Banana da terra ou banana prata, quanto baste para o cobrir o pirex que você for usar
Molho branco, quanto baste para envolver todo o peixe e as bananas
Queijo coalho ralado, no ralo grosso, quanto baste para cobrir toda a superfície do pirex, com abundância.
Modo de preparo: deixe o peixe marinando em limão por pelo menos meia hora. Passe uma água rapidamente para tirar o excesso de limão e tempere os filés com alho, sal e pimenta do reino. Passe os filés na farinha de trigo. Frite-os rapidamente em azeite quente. (Não precisa ficar muito douradinho não, é mais para evitar que quando o peixe vá ao forno, fique "minando" água em excesso) Reserve.
Corte as bananas em lâminas, não muito finas, no sentido do comprimento. Frite-as em azeite quente, escorra em papel absorvente. (a banana da terra é mais fácil de fritar, se for usar a banana prata, que eu gosto mais, por exemplo, talvez precise passar uma pouco de farinha nelas também para que não se desfaçam ou quebrem na frigideira) Reserve.
Para montar o prato, disponha um pouco de molho no fundo de uma travessa refratária, acomode os filés, as bananas, cubra com o molho e salpique o queijo coalho por toda a superfície. Pode ser feito com mais de uma camada de cada um, por exemplo: molho-peixe-banana-molho-peixe-banana-molho-queijo. O prato que eu fiz, anteontem, foi assim, em duas camadas.
Há uma variação bastante conhecida que é forrar a travessa com batatas levemente cozidas, ou seja, não em ponto de pirê, mas firmes. Eu prefiro servir com batatas à parte.
Estórias e Harmonização
Dessa última vez, fiz essa receita para receber uma amiga americana da minha mãe. Na verdade, elas são mais que amigas, são irmãs. Nancy veio ao Brasil, mais especificamente para o Ceará, em 1961, como estudante de intercâmbio! Que loucura, como pode uma americaninha, adolescente, vir parar em Fortaleza em plena década de 60?!? Veio e ficou hospedada com meus avós. Foi assim que elas se tornaram irmãs e são muito próximas. Nancy já voltou ao Brasil diversas vezes, inclusive um de seus filhos mora em São Paulo. Mas, como minha família saiu do Ceará há muito tempo, ela nunca mais voltou à Fortaleza. Por isso, anteontem, tive a oportunidade de oferecer-lhe este prato, como uma forma de recordar.
Quanto à harmonização, esse é uma estória engraçada. Ia fazer o Peixe à Delícia para servir em um almoço de família por ocasião do meu filho mais novo. Tudo bem, peixe vai melhor com vinho branco, mas qual? Foi aí que me beio uma idéia: vou perguntar ao Renato Machado! Todos os dias, o jornal da manhã da CBN é encerrado com a "Hora do Brinde", comandado pelo Sardenberg e com o Renato Machado, que tira todo tipo de dúvida sobre como comprar, investir, armazenar e harmonizar vinhos e outras bebidas.Pois bem, fui ao site da CBN e mandei uma mensagem explicando a receita e pedindo uma sugestão. Dois dias depois ouvi, ao vivo, a resposta do Renato. Morri de rir dentro do carro. Mais tarde toda a família ouviu pelo site da CBN. A sugestão é: um chardonnay jovem, safra mais ou menos de 2002, de preferência californiano, mas o chileno vai muito bem. Fiquei com o chileno, alguma coisa "de los Reys", pois não encontrei o americano. Se me lembrar do nome certinho, volto para postar.
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